TPM

Enquanto organizo prateleiras, eu ouço: ♫ Up! (Shania Twain)

Se existe uma classe maltratada neste país, no mundo, na Via Láctea ou sabe-se lá onde mais, essa classe é a das mulheres com TPM. Na realidade, ninguém lembra dessas pobres. Até hoje, @HugoGloss não desejou um “bom dia” sequer e eu nunca fui a uma missa ou novena em que rezassem pela intenção de quem padece desse mal. “Oremos, irmãos e irmãs, lembrando das mulheres injustiçadas pelo ataque hormonal. Amém”.

Roberto Carlos, que enchia a bola das gordinhas e das mulheres de óculos nunca escreveu uma mísera musiquinha para quem está quase “naqueles dias”. E mais: nenhum (NENHUM!!!) candidato a qualquer cargo político pensou em incluir a TPM como problema de saúde pública e, portanto, motivo para atestados e licenças médicas por pelo menos três dias.

Sim, tô me sentindo um lixo. Ok, isso nem é novidade. Mas durante a TPM a coisa piora. Sabe o que é olhar pra Sandra Annenberg e ter vontade de puxar o cabelo dela? Como é que ela consegue ser feliz daquele jeito todo santo dia, ainda mais quando eu, telespectadora, me encontro inchada e desengonçada na frente da televisão, sentindo meus hormônios fazendo bunda lelê dentro de mim?

"Somebody saaaaaaaaave meeeeeee!”
(Remy Zero)

Podem até chamar de teoria conspiratória. Mas não é que o universo e as energias cósmicas fazem complô pra tudo parecer pior?

É simples. Eu acordo, me olho no espelho e me sinto dentro de um comercial do Activia. Sabe, um daqueles com uma mulher forçando a cara de sofrimento e dizendo: “Meu corpo incha, nada me serve. Fico de mal humor. Para isso só há uma solução...”. A morte, meu bem. Pelo menos no meu caso. Porque nenhum iogurte é capaz de salvar uma vida na TPM. Fato.

E enquanto reflito sobre isso meu rosto é invadido por espinhas, meu cabelo se rebela, minha unha quebra e tudo em mim dói. TUDO mesmo.

Pra piorar, meu lado emocional vira um fiasco e qualquer lembrança triste pode levar a uma tentativa de envenenamento. Na TPM, lembrar que aos sete anos caí de bicicleta e espatifei o nariz, que minha fita dos Backstreet Boys foi comida por formigas e que minha Barbie tinha cabelo BomBril faz de mim um ser mais triste e injustiçado que a Maria do Bairro. Certo. Tirem as facas da cozinha ou alguém vai se matar.

O que fazer então? Sentar e esperar a tsunami hormonal acabar? Não mesmo. Que tal mentalizar alguma coisa positiva, proferir uns mantras? Talvez funcione. Mas Dalai Lama, Ghandi e Buda não tinham TPM e, portanto, nunca dedicaram um pensamentozinho sequer a esse momento traumático. Droga.

O jeito é ir pra rua. Visita ao supermercado até rola. O problema é que alguém pisa no meu pé, o shampoo tá com preço absurdo, o chocolate Talento que eu gosto está esgotado, esbarro com uma conhecida, ela me apresenta o noivo lindo do tipo que eu nunca vou ter e eu percebo então que meu mundo virou uma amostra grátis do Haiti. Alguém ajuda, por favor? Nãããão. O mundo nunca pára pra uma mulher na TPM. Só se ela for a Juliana Paes...

Não é o caso. Então... Tudo bem. Vou ali pular da janela. Já volto.