segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Oi. Eu sou esquisita.





 “Você é estranha”.
Quando ouvi isso pela primeira vez, eu me senti a última das criaturas, abandonada, jogada no mundo. Foi uma ofensa tremenda. Ok, eu devia ter uns sete anos, cabelo evoluindo pro bombril e uma mania incrível de falar sozinha em casa ou na rua. Mas nem por isso eu merecia ser tratada daquele jeito...

Meu impulso foi descer o cacete na pequena ordinária que havia me xingado. Porém, eu não era mesmo muito normal. Então sentei, chorei, pedi desculpas e disse à amiguinha que a deixaria colorir meu livrinho e andar na minha bicicleta cor-de-rosa se aquilo fosse mesmo me transformar em uma pessoa comum. Ela topou, lógico. O que eu não sabia era que eu não podia mudar a opinião dos outros e, pra piorar, eu dava mesmo motivos pra quererem me internar num manicômio infantil.  Oras, eu roubava os Cavalheiros do Zodíaco do meu irmão e comia minhas bonecas. Sério! Pergunte à minha Barbie sem pés.

Além disso, quando a vizinhança inteira descobriu que o Papai Noel não existia eu dei de ombros. Mas fiquei muito magoada quando me contaram que o Super-Homem era uma invenção e que um dia eu teria que largar a mamadeira. Eeeepa! Como é que é? Como é que cometiam uma crueldade daquelas com uma criança de nove (!) anos? Me rebelei. Na MINHA mamadeira ninguém colocava a mão e dela não me separava. Pelo menos era isso o que eu pensava até o dia em que minha mãe decretou, sem brecha pra discussões, que naquela casa ninguém mamava mais. Leite só no copo. Obedeci. Mas tomei nojo. Nunca mais bebi um copo de leite sequer. Sério! Pergunte ao meu médico que já previu osteoporose pra mim.

“Você é completamente pirado. Mas, vou te contar um segredo: as melhores pessoas são assim…”
(Alice, a menina no País das Maravilhas)

Na adolescência, a mesma coisa. Enquanto as meninas que eu conhecia já namoravam, praticamente arrumavam as mochilas pra ir pra faculdade e eram super vaidosas, eu brincava com os meninos da turma. Era uma piveta. Definitivamente. E embora até gostasse de um menino, eu não tinha a menor chance. Não passava de uma paixonite, mas quando o vi com uma garota da 8ª série fazendo juras de amor, doeu. Não chorei. Sentei numa carteira, desenhei um boneco verde e falei que era eu (não me perguntem por que). Mas foi ali que minha ficha caiu. Eu era esquisita e ponto final. Nem tinha corpo de menina ainda! Era quase o Baby da Família Dinossauros. Sério! Pergunte ao colega sacana que me avisou que eu seria homem quando crescesse, porque não tinha peitos.

Eu quis dar uma voadora nele. Lembrei a tempo que isso era coisa de menino e que um dia eu seria rica o suficiente pra colocar silicone e desfilar de decote na frente dele.

Se eu mudei? Claro que não. Ok, hoje pareço menos com o Baby. Mas continuo tendo predileção por coisas esquisitas. Acho Alice chata e sou gamada pelo Chapeleiro Maluco. Pago pau pro Kurt Cobain. Como melancia em cubinhos com açúcar. Durmo com três travesseiros. Converso com meu cachorro. Torço pros anti-heróis. Não ligo se meu time perde. Adoro escuridão. Dou 30 voltas no quarteirão antes de ir pra casa. Amo andar sozinha mesmo às 23h e tendo que atravessar algum canto perigoso. Choro de rir de piadas sem graça, mas com delay de umas dez horas. Danço Beatles enquanto cozinho e obviamente me queimo com óleo (não contem pra minha mãe). Tomo banho de chuva. Finjo que Pepsi é Coca-Cola em casos muito extremos. Fico bêbada com refrigerante. Só como um tipo de chocolate. Morro de vontade de ter um amigo imaginário. Passei 23 anos achando que não gostava de strogonoff. Odeio sonhos (joguei todos fora). E falo pelos cotovelos. Mesmo escrevendo. Sério! Pergunte...  Ah, deixa pra lá. 

9 comentários:

Juliana Souza disse...

Ser estranho!!!É já te falei isso.Até por que, tudo que é normal demais me assusta.Acho isso ,pois me sinto meio Carry, a estranha, que pena que sem os poderes dela.Algumas esquisitisses como:lavar banheiro as 00:00,vontade de ficar a noite toda acordada(não gosto da noite),muito estranho!Só durmo mexendo com os pés e...melhor deixar pra lá...É estranho...Seres estranhos se identificando.Ahhh...e o hehehe,hahaha,kkkk,rsrsrs,me sinto uma louca quando uso.

Mari disse...

RISOS, Ju. Valeu mesmo. Que bom que não sou a única! A vantagem de escrever é que mesmo se expondo e se transformando em uma pessoa óbvia, acontecem coisas assim, como esbarrar com gente parecida e que lava o banheiro de madrugada... =D

Dani disse...

Você não conhece seres estranhos ! kkk
Ameei de novo !

Lílian disse...

Agora entendi porque me tornei amiga sua de cara: porque eu sou "anormal" e gosto de gente "esquisita"!

Adorei o texto!

Beijos Mari!

Camila Chaves disse...

Vai ser esquisita!!!!!
Ngm mais paga pau pro Kurt (além de mim) AHUAHUHAAUH
adoro seus txts tbm... ta parecendo q vc ta escreveno pra mim!!!
e esquisita é vc, eu não! NUNCA, JAMÉ!!!!! eu sou NORMALZINHA da Silva...oops, meu sobrenome não é Silva!!!!
AHUAHAUHAUAHAHUHUAUAH
AMU!

Mari disse...

Me too, Camila "Silva". =P

Unknown disse...

Nossa!!! Poderia jurar que vc falava de mim nesse texto, exceto pelas 3 voltas no quarteirão e em sonhar ter um amigo imaginário (eu nao sonhei em ter um... eu tive um, chamava - se Nini...hahaha... qdo minha mãe ficou grávida da minha irmã, pedi a ela que colocasse esse nome no bebê)!!!
=S

Mari disse...

Haueuaehaeha... Jura, Kelly? Que inveja de vc. Seres imaginários nunca quiseram ser meus amigos... hehe. Aliás, aprendi uma coisa maluca com vc: colocar pão sovado no forno!

KellyCarvalho disse...

Receita nova pra vc: biscoito água e sal com molho de pimenta e café forte!!! Hummm melhor que isso só pão sovado (dormido) esquentado no forno!!! hahaha....
Adoro esse blog!

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