F@#$%! I’m not sexy

Enquanto organizo a prateleira, eu ouço: ♪ Nicest Thing (Kate Nash)

Descobrir se você tem borogodó ou não independe daqueles testes de revista-para-mulher-cosmopolita. Desenvolvi um método muito mais simples, passível de confirmação científica, mas muito útil pra mim.

O primeiro passo foi me olhar no espelho. Analisei todos os ângulos, observei bem e conclui: não pareço a Nicole Schwerzinheigerz (não sei escrever o nome dela. Sim, é a namorada do Hamilton. Aquela que eu quis atropelar com um carrinho de F-1 ano passado). Além disso, Lindsay Lohan sem maquiagem e fazendo bico pra foto do presídio arrasa com qualquer foto 3 x 4 minha. Portanto, o selo de qualidade Sexy Girl passa longe de mim. Pra piorar a situação, não sei mexer os peitos como a Shakira faz. Sério. Eu tento desde a primeira vez que assisti Hips Don’t Lie. A princípio mantive segredo. Achei que era idiota e beirava à demência. Um dia um colega de faculdade – tão estranho quanto eu – confidenciou que o movimento todo era o cúmulo da sensualidade. Ótimo, me senti menos retardada – e menos... você sabe.

Se eu quis morrer por isso? Não mesmo. Desde que eu não esbarrasse com nenhuma das três na rua, por mim estava tudo muito bem. A cereja do bolo veio depois. Uma amiga disse que eu parecia “aquela cantora gordinha” (a Jordin Sparks) e meu afilhado fez o favor de revelar que eu lembrava e muito a “Ugly Betty”. Eu ri. Pra alguma coisa a minha carcaça toda prestava.

Ou não.

Enterrei o assunto. Mas acho que numa cova rasa. Porque muito tempo depois, já convencida do meu estilo “sem gracinha” e com foras no histórico pra comprovar, esbarrei com um texto no Caras Como Eu. Era uma lista de 50 coisas que as mulheres não imaginam ser sexy. Não resisti. Talvez a minha mania de morder o polegar estivesse incluída e, ei!, talvez eu ainda tivesse salvação. Cliquei no link e... surpresa! Eu me enquadrava em alguns tópicos! Mãããe, eu sou sexy! Uhu!

Ou não.

"And no one likes plain things..."
(Angel Taylor)

Segundo Gabito (o autor), covinhas nas costas, alcinha do sutiã à mostra, franjinha, tatuagens, flacidez na parte interna da coxa, sorriso torto, canela grossa, fazer as unhas do pé em casa e brincos grandes são o que há. Pois bem: tenho covinhas, mas elas não devem ser muito interessantes (talvez a curvatura ou a profundidade não tenha agradado); vez ou outra a alça escapa da camiseta, mas acho que meus sutiãs não são muito chamativos; tenho franja e tatuagem (duas. Quero a terceira), mas quem vai olhar pra mim se a menina ao lado tem 18 expostas e a 19ª num lugar ultra-secreto, hein? Sem falar que Cléo Pires apareceu na Playboy com uma bastante insinuante na coxa. Quanto à flacidez... vamos mudar de assunto. O sorriso torto eu tenho, mas ele acaba anulado pelos meus dentes de hamster-de-laboratório (são pequeninhos mesmo). Canela grossa, vá lá, tá em mim, mas convenhamos que os homens não observam muito abaixo da linha do Equador, né? Unhas faço em casa mesmo, mas a sensualidade da coisa vai embora com os “bifes” e o esmalte mal passado. Por fim, sim, amo brincos grandes, mas acho que o meu rosto redondo demais esconde qualquer um.

Seguindo a lista, apareceram seios que enchem mão, sandália rasteirinha, anel no dedão do pé, óculos de grau, seriedade, inteligência e umas coisas que não dá pra colocar aqui até eu comprovar que menores de 18 anos não lêem este blog. Pra começar, sou peituda. E conferindo no espelho... ah, esquece. Não uso anel no dedão do pé, até porque sou desastrada e iria perdê-lo no primeiro tropeção. Uso óculos de grau, sou um pouco mais inteligente que uma azeitona e pareço séria. Já até disseram que eu tenho um jeito meio Sarah Palin (não entendi bulhufas por que. Besteiras de MSN). O problema é que não estava na fila quando Deus distribuiu o equilíbrio. Resultado: saí predestinada a não ficar bem de óculos, a ser séria demais (cara amarrada dos infernos) e parecer uma jeca perto dos outros. Pelo menos tenho consciência disso, né? Isso vale ponto?

Voltando ao Gabito... Sim, eu corro com mp3 player, mas passa longe de ser um iPod. Sabe os brinquedinhos do Shopping Oi? Então... Não devem ser nem um pouco sensuais, né? Tenho vestidinho branco, com “babado de renda e feito pra casar na praia”, mas talvez não caia bem em mim. Rímel borrado rola às vezes, mas não tem nada a ver com noite intensa e blá, blá, blá. Desculpem.

Saia até o joelho? Tenho uma cor-de-rosa, mas soltou um botão. Ainda não sei se consigo rir com os olhos (acho lindo quem faz isso), não tenho pintinhas no rosto e as blusas que expõem as costas ficam meio guardadas com esse frio. Posso testá-las de novo no verão?

Sim, uso cabelo preso meio atrapalhado, com mechas no rosto, mas devo parecer a "Creusa Doida" com ele. Esse penteado só funciona pra Meg Ryan e pra protagonista do Cold Case.

Mordo o lábio quando tô nervosa (ou quero chorar), sou marrenta, enfezada e temperamental, embora consiga ser simpática também. O problema é que não sei quando ser um e outro. E que quando sou simpática pareço uma paçoca. Leio de bruços, mordo a caneta, uso coisas de algodão nos dias light e camiseta regata. Mas em casa. E lá só meu cachorro me vê. Aqui na república a gente tem que se comportar, faz um frio do caramba e garanto que a Bê – que divide o quarto comigo – prefere ser colega de alguém que vista pijamas e esconda o bumbum (eu também).

Sendo assim, confesso: fiquei em casa brincando com meu Fofão de pelúcia (que eu estripei pra conferir se tinha mesmo um canivete dentro. Depois joguei pela janela, de medo) e não fui à barraquinha que distribuía sensualidade. Deus notou, acho. E como percebeu minha má vontade, entregou minha parte pra Nicole Schwerzinheigerz, pra Shakira, pra diaba da Lindsay Lohan e pra tal da Cléo Pires. Justo. Fazer o quê?