Organizo as prateleiras e ouço: ♫ See you soon (Coldplay)
Acordou às 2h, tirou a franja do rosto, desenrolou a camisola do corpo e saiu cambaleando pra cozinha. Chutou sem querer a cadeira, amaldiçoou 30 gerações de quem a colocou ali, se recuperou e abriu a geladeira pra pensar. Choque térmico nem passou pela cabeça dela e entortar o rosto era o menor dos desastres possíveis. E daí se iria amanhecer com a boca perto da orelha?
Ele chegou em casa arrastando os pés. Fez careta em frente à porta. Preguiça de se livrar da roupa, escovar os dentes, responder à mensagem da menina que havia pegado na festa, esperar a bebedeira passar. Caiu na cama daquele jeito mesmo, fechou os olhos, apagou. Sonhou com ela. Não a menina da festa. Outra, caso antigo. Inferno! E de todas as imagens que guardava, a mais vívida era a do dia em que se despediram. Sem drama, sem lágrimas, sem nada. Ambos impassíveis e dizendo a si próprios que a hora era aquela. Melhor dizer tchau, parar por ali e seguir rumos diferentes, mesmo que uma vitrola imaginária não parasse de tocar Don’t go away na cabeça dele. Mas insistir pra quê? Não fazia sentido. Certas coisas na vida perdem a graça e persistir nelas é mascar chiclete já sem sabor. Tudo bem então. Se encolheu na cama e esperou o sono voltar, mesmo com a vitrolinha imaginária insistindo num replay de Wish you were here.
Ele continuou acordado, zapeando entre os canais de TV. Nada interessante. Até o filme meio pornô da madrugada era sem graça. Tinha assistido aos 8 anos. Ah, vontade absurda de falar um palavrão. Lembrou-se dela censurando a boca suja com jeitinho. “Não fala assim. Calma...”. Calma. Era disso que precisava. Aquela ordinária só o assombrava porque estava bêbado. Isso. Culpa da cerveja. Saudade é o nome científico da mistura de álcool e ausência correndo pelas veias, não é? Ah, esses Einsteins de boteco...
E enquanto elaborava mais teorias com cientificismo barato ele dormiu. Ela fez o mesmo. Porque a ausência também cansa.
Acordou às 2h, tirou a franja do rosto, desenrolou a camisola do corpo e saiu cambaleando pra cozinha. Chutou sem querer a cadeira, amaldiçoou 30 gerações de quem a colocou ali, se recuperou e abriu a geladeira pra pensar. Choque térmico nem passou pela cabeça dela e entortar o rosto era o menor dos desastres possíveis. E daí se iria amanhecer com a boca perto da orelha?
Depois de muito encarar potes de iogurte e tentar filosofar sobre eles, resolveu encher uma caneca de café e se sentar. Estava nervosa. Fato. Precisava de um cigarro, de uma dose de whisky. De repente se lembrou que não fumava e que álcool nunca havia entrado na lista de compras. Aliás, desde quando tomava café daquele jeito?
Riu da própria bobagem e assim ficou um bom tempo, no escuro, juntando piadinhas internas numa tentativa frustrada de gargalhar sem motivos e fazer eco na casa inteira. Não queria pensar em saudade, não queria pensar nas coisas que não aconteciam, não queria pensar em ninguém. Mas pensou. Droga. E jurou que seria a última vez. A última vez que queria saber se ele estava bem, se havia sido aprovado na faculdade, se dormia, se tinha cortado o cabelo, se continuava rindo atrapalhado, se sumia tropeçando nos próprios pés naquela mesma esquininha...
Se não souber voltar ao menos mande notícias
Cê acha que eu sou louca,
Mas tudo vai se encaixar...
(Pitty)
Cê acha que eu sou louca,
Mas tudo vai se encaixar...
(Pitty)
Ele chegou em casa arrastando os pés. Fez careta em frente à porta. Preguiça de se livrar da roupa, escovar os dentes, responder à mensagem da menina que havia pegado na festa, esperar a bebedeira passar. Caiu na cama daquele jeito mesmo, fechou os olhos, apagou. Sonhou com ela. Não a menina da festa. Outra, caso antigo. Inferno! E de todas as imagens que guardava, a mais vívida era a do dia em que se despediram. Sem drama, sem lágrimas, sem nada. Ambos impassíveis e dizendo a si próprios que a hora era aquela. Melhor dizer tchau, parar por ali e seguir rumos diferentes, mesmo que uma vitrola imaginária não parasse de tocar Don’t go away na cabeça dele. Mas insistir pra quê? Não fazia sentido. Certas coisas na vida perdem a graça e persistir nelas é mascar chiclete já sem sabor. Tudo bem então. Se encolheu na cama e esperou o sono voltar, mesmo com a vitrolinha imaginária insistindo num replay de Wish you were here.
Ela voltou pra cama. Suspirou de novo. Prometeu que não vigiaria a caixa de e-mails no dia seguinte ou esperaria o MSN piscar. Já não acreditava em milagres. Tudo bem, tudo bem. Não tem aquela musiquinha irritante que compara a vida a uma estação? Pois é. Embarques e desembarques o tempo todo. Por que não se acostumar? Vai sempre haver alguém pra ir embora deixando um adeus acenado a contragosto. Pode ser que volte, mas a verdade é que entre partidas e chegadas quem mais faz falta se perde em alguma parada por aí e não compra passagem pra retornar.
Ele continuou acordado, zapeando entre os canais de TV. Nada interessante. Até o filme meio pornô da madrugada era sem graça. Tinha assistido aos 8 anos. Ah, vontade absurda de falar um palavrão. Lembrou-se dela censurando a boca suja com jeitinho. “Não fala assim. Calma...”. Calma. Era disso que precisava. Aquela ordinária só o assombrava porque estava bêbado. Isso. Culpa da cerveja. Saudade é o nome científico da mistura de álcool e ausência correndo pelas veias, não é? Ah, esses Einsteins de boteco...
E enquanto elaborava mais teorias com cientificismo barato ele dormiu. Ela fez o mesmo. Porque a ausência também cansa.
2 comentários:
"O que eu sinto a respeito dos homens é estranho
É estranho como é frio é estranho como perdi a fé
É estranho como é estranho perguntar o nome
O que eu sinto a respeito de nós é estranho
É estranho como é triste é estranho como olhar pra trás
É estranho como é estranho esquecer o nome
Eu amei e acho que algumas vezes ela também me amou
Só que o prazer é tão curto
Eu amei e acho que algumas vezes ela também me amou
Só que esquecimento é tão longo
O que penso a respeito de tudo é tão estranho
É estranho como é simples é estranho como essa canção
É estranho como é estranho sussurar o nome"
Nenhum de nós (É estranho)
Achei a música a cara da postagem.
Eu adoro essa música, Ju... Boa lembrança a sua! Coincidência ou não, uma amiga minha comentou sobre é Nenhum de Nós hoje mais cedo. Concluímos que era um show que precisávamos ir.
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