quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Camuflagem



Primeiro foi a depiladora.
- Você não sente dor, querida?
- Não... Se eu cochilar, me acorda quando terminar?
- Tô chocada! Você é um um extra-terrestre ou homem enrustido?
Depois foi um colega de trabalho, enquanto ela desenhava no guardanapo toda a trajetória do Negueba num lance polêmico da Sub-20.
- Esquisita.
- O quê?
- Você. Às vezes te acho um menino.
- Ah... Se eu fosse a fim de você, teria partido meu coração com essa, sabia?
- Então você não tá interessada em mim?
- Claro que não.
- Viu só? É machinho. Todas as mulheres estão interessadas em mim.
- Vai tomar no cú.
- Aí! De novo. Piveta.
- ...
- Tá me xingando mentalmente? Não se reprima, baby.
- Tô bem assim, obrigada.
- Mal humorada. Tá precisando dar.
- Esse tipo de jogo psicológico não funciona comigo.
- Sabe de uma coisa? Se tá difícil assim agora, você vai ser um saco quando tiver 30 anos. E nem vai demorar, né?

Fato. Quase 30. Beirando. Em Sex and the city isso seria estúpida e futilmente glamouroso. Mas na vida real, num subúrbio da América do Sul,  o 3 com um zero à direita a colocava naquele limite em que um blog tipo o Taça em Y deixava de ser leitura condizente. Além disso, o papel de mulher-madura-cheia-de-iniciativa já não cabia nos scripts dela e o John Mayer havia descido do pedestal de "homem ideal" para "homem cachorrão" (leia-se "filho da puta") que ela nunca pegaria por mera incompetência. Merda suficiente pra questionar se era mesmo fruto de um espermatozóide esperto ou de uma semente bastarda de alface. Principalmente considerando o lado machinho, transex ideológico, que ela mantinha sabe-se lá por que.

Fez então um teste. Parou em frente ao espelho, tirou a calcinha e observou bem. É... não tinha um pinto. Embora fosse pequena e (muito) larga,  tinha curvas suficientes e uma bunda bem redonda pra comprovar que era fêmea. E muito. Mesmo porque, se não o fosse, nem Padre Quevedo explicaria a TPM galopante que a transformava em uma versão bronzeada e com um bocado de celulites do Godzilla uma vez ao mês. Mas a mulherzinha de esmalte roído, brincos prateados e sutiã com bojo fala palavrões, discute futebol, assiste pornôs e protesta contra a Marvel. É nerd, compra álbuns de figurinhas que nunca completa, adora anti-heróis, faria uma tatuagem gigante, já não acredita em horóscopos e não tem a menor vergonha de mostrar o dedo do meio. É uma moleca maior de idade, vacinada, debochada, despudorada, mal humorada, com desequilíbrio hormonal e incontinência emocional.

Tudo isso pra esconder a obviedade do rímel vencido, da roupa suja acumulada, da conta bancária zerada, da vontade de colo e da disposição 24h para um café (que ela odeia, mas acha chique). Não passa de uma versão sóbria, solteira e pobre da Courtney Love, mas sem ter um vizinho como o Lenny Kravitz, o que torna a vida ainda mais desgraçada. Raivosa e impetuosa, fica histérica madrugada afora e só não conversa com o tigre de pelúcia chamado Osvaldo porque a sanidade ainda existe e ela sabe que é ridículo. Tão ridículo quanto achar que aquela música fofa do Wallflowers podia ter sido escrita pra ela. Claro que não, tolinha... meninas que se escondem não inspiram ninguém.

3 comentários:

Camila Chaves disse...

Naneeeee!!!So vc mesmo, tinha necessidade de descrever assim?

Ahauahauahauahau

So tenho uma ressalva a fazer: n discuto futebol pq os homens q tem pinto n sabem perder!!!

Parabens, de novo!!!
Amo mto!!! Saudadeeeecrever assim?

Ahauahauahauahau

So tenho uma ressalva a fazer: n discuto futebol pq os homens q tem pinto n sabem perder!!!

Parabens, de novo!!!
Amo mto!!! Saudadeeee

Flávia disse...

Perfect!!!! Simples assim...

Maicon disse...

Isso foi lindo.

Postar um comentário

Deixe sua marca nessas prateleirinhas empoeiradas. A forma mais simples é selecionando Nome/URL. Só colocar seu nome, um comentário pequenino e pronto: saberei que deu uma olhada na minha estante.