terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dois anos, sete meses... e 'oi'





Se encontraram bem no estilo de seriados americanos cancelados na metade da segunda temporada: em um bar. Ela sentada com as pernas cruzadas em frente a um balcão, ele ainda na entrada procurando uma mesa pra fechar a noite. Sozinho, apesar da aliança reluzente na mão direita. Se viram, não se cumprimentaram. Ela desviou o rosto e encarou a TV que transmitia um jogo qualquer de futebol. Ele continuou olhando, meio lerdo, pensando se ela ainda queria cravar uma faca na jugular dele ou preferia um método mais rápido, tipo um tiro de rifle a queima-roupa. Fez pior: fingiu que não o viu. Como sempre. E naquela noite em que não tinha nada pra fazer, ele resolveu tentar conversar. 

Pra ela fazia dois anos, sete meses, três semanas e quatro dias desde a última vez. Pra ele fazia um tempão. Soltou a primeira coisa idiota, quase íntima e no estilo como-se-nada-tivesse-acontecido que veio à cabeça.

- Duvido que já tenha aprendido o que é um impedimento.

Ela riu. A contragosto, claro. Mas a cara de pau dele era tão absurdamente divertida e politicamente incorreta que não podia resistir. Ela gostava e ele sabia. Mas no mesmo rosto que sorria havia os olhos carregados. Já não tinham tantas lágrimas quanto ele havia se acostumado a ver e nem a inocência de quem esperava uma resposta. Eram duros, vazios e encaravam um homem alto, cabelo desgrenhado e barba por fazer. Não o cara a quem pediria colo ou "segredos de liquidificador" noite afora em um canto qualquer. E ele entendeu. 

O cabelo dela podia estar bem mais comprido e ajeitado no estilo "acabei de acordar", a cintura mais fina, as coxas mais grossas, as unhas menos roídas e o rosto dela... ah, de dois anos, sete meses, três semanas e quatro dias só tinha os olhos puxados... mas ele ainda conseguia lê-la e a achava estranhamente bonita. Incomodava, como sempre. Sabia que podia ser diferente, que podia arrastá-la dali pra cama mais próxima. Mas não teve coragem. Como sempre também.

Ela pediu a conta, agarrou o molho de chaves, a bolsa, e saiu pisando duro depois de um tchau perdido no sorriso torto. Ele foi atrás. Pela primeira vez. 

- Me desculpa. 

Ela quis perguntar pelo quê exatamente: se por ter mentido, se por ter ido embora, se por ter quebrado promessas, se por ter reduzido toda dor dela a um "vai passar. Tudo passa. Inclusive o que sente por mim". Ficou quieta. Dessa vez ela não soltou um "tudo bem". Foi embora. E nessa hora ele reconheceu a mesma jovenzinha inocente, teimosa e selvagem que ele não quis domar. Era ainda uma garota engarrafada e baixinha que odiava quase todo mundo, mas amava com uma força insuportável e sufocante alguns poucos e bons. Ele só não sabia em que lado estava. E caiu no sono muitas vezes depois de encarar o teto e tentar adivinhar.

4 comentários:

João di'Caetano disse...

Como Sempre, Naninha matando a pau nos seus textos.
Curti demais.

Good Job Nane.

Kisses

Flávia Nunes disse...

Obrigada, pela pronta resposta!

Dizer que amei é redundância?

E como sempre um pouco de mim!!!

"E nessa hora ele reconheceu a mesma jovenzinha inocente, teimosa e selvagem que ele não quis domar. Era ainda uma garota engarrafada e baixinha que odiava quase todo mundo, mas amava com uma força insuportável e sufocante alguns poucos e bons. Ele só não sabia em que lado estava. E caiu no sono muitas vezes depois de encarar o teto e tentar adivinhar".

Camila Chaves disse...

Eu posso falar??
Vc diz q se preocupa comigo, mas me faz chorar!!! Eu não entendo... brincadeira ... vc sabe q eu te amo, q sou sua fã... mas esse texto de hoje foi pra furar de novo uma ferida q tava começando a cicatrizar... vc sabe do q e de quem estou falando... ai saudadeeeee!!!!!
dele e de vc tbm sua feia!!! vó!!!

Mari disse...

Também te amo, fiúra. Vai cicatrizar e ficar a marquinha. E vai parar de doer. Um dia vc vai fazer um blog e escrever sobre isso. ;)

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