domingo, 6 de novembro de 2011

Deixa estar...



Mais do que irônico, o Destino era um filho da puta. Principalmente porque formava um belo casal com a Coincidência e a agarrava em todas as festas
open bar, em cima do palco, ao lado da bandinha que convencia com um som muito bom até fazer cover daqueles caras que só você e o irmão dela realmente curtem. Não fossem a sobriedade que sempre existe independente das doses de cerveja e vodka e o bom senso que, acredite, ela tem mesmo gostando de você, ela se rebelaria feito um líbio antes da tal Primavera. Típico. Tão idiota quanto acreditar que, entre rir da cara dela e programar a próxima chacota, Destino e Coincidência se davam um belo beijo pra selar o relacionamento. De língua. Censurado pra menores antes das 22h e maiores com tesão engarrafado a qualquer hora do dia. É. 

Naquela hora, músicas sobre "rodas gigantes", "primas" e "mordidas" eram tão cretinas quanto uma coletânea inteira, em CD duplo, com versões ao vivo, instrumentais e remixes do Bryan Adams. No repeat. Mas sem ser brega. Foda.

Fazer o quê? Sentar e esperar passar. Tentar ouvir a consciência em meio à barulheira toda de gente excessivamente feliz que celebrava até a ocupação da Rocinha. Com aquele índice de álcool poluindo todos os poros, era capaz de imaginar um diabinho vagabundo - que não vestia Prada, lógico - sussurrando "liga ou manda uma mensagem dizendo que sentiu saudades". Mas teimosia era algo que ela tinha de sobra. Ou pensava que sim. E falta nenhuma justificava ceder, voltar atrás, pedir arrego, trancar o orgulho no banheiro nojento da festa e tentar preencher com qualquer coisinha aquele vácuo que incomodava. Ela sabia que já não era simplesmente "vazio". Isso ela sentia aos 12 anos quando escrevia num diário cor de rosa e com perfume produzido na "Zona Franca" da 25 de Março. Agora era quase um buraco negro que só certezas e um "eu quero me arriscar. Eu quero você" poderiam esconder.


Tocaram Beatles. Ela quis dançar. Eu quero segurar sua mão. Aff... ela parou de novo. Ficou pensando. "Querer" não tinha ligação nenhuma com "poder". Mais um copo de cerveja. "Se eu ceder, ponho a culpa na bebida. Pesquisas apontam que álcool aumenta o índice de carência por 'célula quadrada'. Deu no Estadão". Mais Beatles. Well, shake it up, baby, now... Twist and shout. Boa ideia. Era o que ela queria fazer. E esquecer que era o Ringo Starr apagadinho em meio a tantos Johns e Pauls no mundo de... de quem mesmo? Foda-se. Tudo. Inclusive essa comparação horrorosa de colunista demitido da Rolling Stone. "Vai passar. Não ligo pra merda alguma até a música parar".


E quando a festa acabasse - sempre acaba -, a maquiagem derretesse, o cabelo embaraçasse  e ela tivesse que voltar pra casa... ela poderia fazer qualquer coisa antes de dormir. Até rezar. E se lembrar de
Let it be. "Vai haver uma resposta. Deixe estar...". 

5 comentários:

Helena disse...

Primeira vez que passo por aqui. Gostei muito, Mari. Lindo blog. Parabéns.

Anônimo disse...

Ual, mari quando vai escrever um texto sobre mim?
Um cara solitario escutando maroon5 no seu apartamento tomando stella artois pensando na linda garota loira q ele beijou na balada e esqueceu de pegar o numero do telefone dela!
Rs

Mari disse...

Olá, Anônimo! É... sua história renderia algo interessante, hein? Poderia acrescentar, por exemplo, uma pitada futebolística. O rapaz do texto, não bastasse, ficou frustrado com a rodada do Brasileirão no fim de semana. Obrigada pela inspiração. ;)

Anônimo disse...

só falo de futebol com voce depois que voce me pagar!
obrigado.

Júlia Calácio disse...

Já estava com saudades das suas palavras. Lindo, Mari. De praxe!

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